quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu no país das consciências

O vento que entra pela janela do meu quarto de madrugada é diferente do vento que entra por qualquer outro canto da casa.
Acho que é porque ele traz um cheiro que mais nada na vida me traz, cheiro de quê?
Perguntei à minha mãe por que ele era tão bom e ela me disse que era o cheiro da vida...
Não entendi nada, mas é o mesmo cheiro que eu sinto de madrugada quando imagino um campo cheio de margaridas
E vejo uma menina sentada que às vezes eu acho que sou eu, às vezes eu acho que é a minha consciência...
Eu sei que ela saberia me responder exatamente o que de especial tem o vento-do-quarto-de-madrugada que não tem o vento-do-meio-dia-do-ônibus nem outro vento do mundo.
Claro que ela sabe, afinal ela é minha consciência e enxerga as palavras que eu não enxergo para as coisas que não sei explicar. Certo?
Certo. Vou atravessar esse campo amarelo e perguntar para ela, e vou entender finalmente o vento místico da madrugada. Olha lá a minha consciência sentada bonitinha, ela parece comigo e ela está rindo...Mas o riso dela é mais bonito e o cabelo dela brilha mais com o sol...Minha consciência sou eu, só que aprimorada.
Mas assim que chego perto dela, esqueço dessa ventania toda e acho por bem perguntar sobre coisas mais concretas e urgentes: o que eu faço em relação ao problema tal da minha vida? Ai, larga essa margarida logo e me responde...o que eu faço? Pára de rir logo, menina, me ajuda, eu tô com uma questão amorosa pendente, que caminho eu tomo?
Mas a minha consciência não fala, principalmente quando ela precisa falar. E agora eu preciso da minha consciência e ela não fala. Fala, desgraçada! Fala, infeliz! Não fala.
Aposto que se eu decidisse perguntar pra ela sobre a longínqua questão etérea do vento ela me responderia, ah, responderia sim. Mas eu decidi perguntar outra coisa. Perguntei uma coisa prática demais, e poética de menos, para que uma criatura tão subjetiva pudesse responder.
A gente percebe quando a poesia acaba assim, de repente...a vida real entra no meio e desmancha o campo florido de margaridas e o vento místico da madrugada...quando a gente precisa de respostas a poesia já não serve para nada.
E eu acordo com o meu cabelo de sempre e minha risada habitual e continuo sem saber explicar o vento e sem saber o que fazer da vida...


Jessica Ferreira

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