terça-feira, 31 de agosto de 2010

Drummond do mundo

Você encaixado no mundo seria um desgaste
Veja o mundo ao redor, veja o contraste
Entre a sua pele macia e a dureza das ruas
Entre o céu cinzento e as pupilas suas
Tão dilatadas nesse mundo escuro
Nesse riso escuro a rir do seu instinto puro.

Não se mescle com o mundo
Não permita que ele deixe

Seu olhar cada vez mais fundo
Nem sua pele descascada do descaso
Não deixe que o seu destino morra por acaso

O mundo quer diluir no esgoto as suas lágrimas cristalinas
Quer ver seus encontros se perderem pelas esquinas
O mundo inveja da sua bondade a face corada
Inveja o rodopio colorido das suas manhãs, tardes, noites, madrugadas
Misturadas num suspiro de cores roxas, rosas, amarelas, azuladas
Mas o mundo não tem nada disso, o mundo não tem nada
O mundo é cinza de manhã de noite cinza de tarde cinza madrugada desbotada
Não sabe abrir um sorriso do jeito que você abre
Aposto que nem rodopiar sabe...

O mundo só quer engolir mais um, sem fome, sem vontade, sem compaixão
Engolir um por um por pura compulsão
Na massa cada dia mais cinzenta da sua opressiva razão.

Seja a flor no concreto do mundo
Seja Raimundo, seja a solução.
Seja o "meu Deus" e o "meu amor" do mundo
Seja o anti-absolutismo da depuração
Seja um pouco de amor, seja um pouco Drummond
No meio do caminho tinha um coração.


Jessica Ferreira

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